
Meu Santo é Forte é o meu primeiro trabalho autoral.
Com arranjos de Felipe Guedes e de Neila Kadhi, trago em minhas canções referências da música brasileira de raízes fortes porque fazem parte da minha forma de ver o mundo. “Sabe de onde você veio? Sabe bem quem você é?” – costumo me indagar para não me perder em um horizonte sem fim que é a vida no mundo.
Entendo que ser artista é também ser uma intérprete da vida ao meu redor. Por isso também não perco de vista a vivência da contemporaneidade. As minhas músicas refletem no ritmo, na melodia, no arranjo, na poesia e na minha performance o meu olhar sobre o mundo e sobre a realidade ao meu redor. É isso que traz a sonoridade original, corajosa e arrojada de MEU SANTO É FORTE.
A criação artística nunca começa do nada. MEU SANTO É FORTE é fruto de todas as experiências, memórias e vivências que tive. A minha musicalidade não esconde o meu amor pelas referências dos ritmos e sotaques baianos.
A faixa que abre os meus trabalhos, e cujo refrão dá nome ao EP, Rima e Reza, é um samba que fala sobre a importância do solo sagrado baiano. A segunda música, Umbigo, é um samba de roda bem ritmado e fala de uma história bem conhecida nos interiores baianos: as mães na roça costumam enterrar o umbigo das filhas na terra, no mato, no curral. Umbigo fala destas lembranças e vivências.
A terceira canção, Senhora de Mim, é uma parceria com a grande amiga e mestra Ana Paula Albuquerque. A música trata dos afetos e da experiência de uma mulher andarilha que quer finalmente um aconchego. É uma ode ao feminino pela olhar de uma mulher que estuda e pesquisa o feminismo.
Nas faixas finais do EP, fui disruptiva e inventiva. Convidei a produtora Neila Kadhi para fazer os arranjos a produção destas músicas pois queria essa troca e influência de uma mulher como ela. Com Manifesto do Puro Amor e Bandida, falam alto a sexualidade feminina e a experiência de um corpo de mulher que não pretende se submeter ou se calar. Escrevi na dissertação de mestrado que “a mulher é o sujeito marcado pelo gênero feminino e que compartilha experiências sociais a partir desta identidade”. Manifesto traz esta leitura na forma de música e discurso, chamando outras vozes de mulheres a compartilharem desta voz que diz algo tão íntimo a tantas delas.
Bandida, por sua vez, tem o ritmo da sofrência como base e estrutura para contar uma história de amor lésbico. As canções da sofrência geralmente trazem histórias de amor heteronormativas, e às vezes até mesmo machistas. Eu quis contar uma história de amor entre duas mulheres, que apesar de falar de temas como infidelidade, mágoa, e separação, tem uma leveza que não transforma o amor em ódio. É uma história em que, por fim, o sofrimento amoroso se transforma em crescimento e aprendizado, e não em mais rancor.